Uso indiscriminado de tadalafila pode gerar dependência psicológica, alerta especialista

Medicamento usado para disfunção erétil é vendido sem receita no Brasil; consumo diário virou hábito até entre quem não tem indicação médica. Uso ind...

Uso indiscriminado de tadalafila pode gerar dependência psicológica, alerta especialista
Uso indiscriminado de tadalafila pode gerar dependência psicológica, alerta especialista (Foto: Reprodução)

Medicamento usado para disfunção erétil é vendido sem receita no Brasil; consumo diário virou hábito até entre quem não tem indicação médica. Uso indiscriminado de tadalafila pode gerar dependência psicológica, alerta médico A explosão nas vendas da tadalafila, medicamento indicado para tratar a disfunção erétil, acendeu um alerta entre especialistas. Com 64 milhões de unidades vendidas em 2024 (um recorde histórico no país), o uso da substância tem se espalhado entre jovens adultos e homens sem qualquer diagnóstico médico. O risco, segundo apontou o presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Dr. Luiz Otávio Torres, em entrevista ao podcast Bem-Estar, é o desenvolvimento de uma dependência psicológica: o usuário passa a acreditar que só conseguirá manter a performance sexual com a ajuda da pílula. Tadalafila é o 2º remédio mais vendido do Brasil Reprodução/TV Globo O remédio, que deveria ser restrito a casos clínicos bem avaliados, é comprado livremente nas farmácias brasileiras — diferente do que acontece nos Estados Unidos e em países da Europa. “Remédio nenhum você deve tomar sem indicação médica”, adverte Torres. “Só vou conseguir se eu tomar” Apesar de não causar dependência química, o uso da tadalafila fora das indicações médicas pode gerar um efeito danoso para a saúde sexual: a crença de que o desempenho depende exclusivamente do comprimido. Exclusivo: venda de tadalafila no Brasil cresce 20 vezes em 10 anos e bate recorde; entenda o 'hype' do remédio contra disfunção erétil Brasil tem recorde de vendas de tadalafila nos últimos dez anos “O homem usa esse medicamento para melhorar a ereção e melhora. E aí gera um problema psicológico, tipo assim: ‘eu só vou conseguir se eu tomar’. Então ele toma, toma, toma e aí claro que a venda vai aumentar, porque ele está tomando com uma frequência teoricamente indevida”, explicou o médico. Segundo o especialista, o ciclo de dependência emocional se instala quando o homem associa o bom desempenho sexual ao uso constante da substância — mesmo sem apresentar problemas físicos de ereção. “O medicamento não leva a dependência química, mas pode levar a dependência psicológica”, ressaltou. Comprimido é vendido sem receita Hoje, qualquer pessoa pode comprar a tadalafila em farmácias brasileiras sem apresentar prescrição. “Você escolhe o que quer e compra. Não precisa de receita, você compra totalmente sem receita. Ao contrário dos Estados Unidos e países da Europa, que a maioria necessita de receita. No Brasil não”, afirmou Torres. A comercialização liberada ajuda a explicar por que as vendas em 2024 foram 20 vezes maiores do que há uma década. E, de acordo com o presidente da SBU, o crescimento está longe de refletir apenas os casos reais de disfunção erétil. Riscos do uso sem indicação Quando usado sem avaliação médica, o medicamento pode trazer efeitos adversos como dor de cabeça, congestão nasal, vermelhidão no rosto, sensação de calor e até dores musculares. Também existe o risco de interações perigosas, especialmente com remédios usados no tratamento da angina. “Existe uma contraindicação desses remédios, que é o uso concomitante com medicamentos à base de nitratos. Vai que a pessoa está tomando um remédio desses e toma a tadalafila — ela pode ter uma hipotensão importante, uma queda de pressão com a associação dos dois”, explicou o médico. Quem realmente precisa A tadalafila é indicada principalmente para três condições: disfunção erétil, sintomas urinários associados ao crescimento benigno da próstata (como jato urinário fraco e aumento da frequência noturna) e hipertensão pulmonar — esta última sob orientação de um pneumologista. Em todos os casos, o diagnóstico depende de uma análise criteriosa do histórico de saúde do paciente, incluindo condições como diabetes e hipertensão. Não é para quem tem ereção normal Dr. Luiz Otávio Torres reforça que homens com ereção considerada normal não devem fazer uso do medicamento. “Eu não vou receitar nunca para quem vem e fala: ‘doutor, a minha ereção é absolutamente normal, mas eu quero tomar’. Não há indicação”, disse. E quem já está tomando por conta própria? Para aqueles que já fazem uso do remédio sem orientação, o médico orienta interromper imediatamente. “Não há um problema de desmame, tipo medicamento que você tem que ir parando aos pouquinhos. Não. Pode simplesmente parar”, afirma. No entanto, é preciso estar atento à questão emocional. “Se ele parar de tomar, ele pode passar até a ter disfunção erétil, e não conseguir, porque tem o temor de que se não tomar não funciona”, alerta o especialista. O que fazer para melhorar desempenho ou ganhar músculo? Segundo o médico, homens que buscam melhorar a performance sexual devem consultar um urologista. Já quem deseja aumentar energia ou ganhar massa muscular precisa procurar profissionais como endocrinologistas e nutricionistas. “Tomar tadalafila para isso, não. Nunca. Não tomar medicação nenhuma sem orientação médica. Medicação é para quem precisa, não brinca com a sua saúde”, finaliza Torres.